Entrevista com Felipe Boso Brida
Nascido e residente em Catanduva (interior de São Paulo) Felipe Brida é jornalista, pesquisador de cinema desde 1997 e especialista em Artes Visuais e Intermeios pela Unicamp. Natural de Catanduva (SP), onde reside, é professor de Semiótica, História da Arte, do Cinema e da Fotografia no Imes Catanduva e coordena a área de Comunicação e Artes do Senac da mesma cidade. Ministra cursos e palestras em diversas instituições pelo país. Apresenta o programa Mais Cinema, na Nova TV Catanduva, e mantém colunas nos veículos Diário da Região (Filme & Arte) e Middia Magazine (Middia Cinema), além de colaborar com o Observatório da Imprensa e o informativo Colunas & Notas.
Foi consultor dos festivais Brafft (Toronto) e Expressions of Brazil (Canadá). É autor do livro Cinema em Foco – Críticas Selecionadas (2013) e criador do blog Cinema na Web, ativo desde 2008. Participa como jurado em festivais nacionais e já atuou como comentarista nas rádios Bandeirantes e Globo AM. Também foi redator dos sites E-pipoca e Cineminha (UOL), e co-fundador de diversos portais sobre cinema entre 1998 e 2008.
1) É comum lembrarmos com carinho do início da nossa relação com o cinema. Os filmes ruins que nos marcaram, os cinemas frequentados (que hoje, provavelmente, estão fechados), as extintas locadoras de VHS e DVD que faziam parte do nosso cotidiano. Conte-nos um pouco de como é sua relação com a 7ª arte. Quando nasceu sua paixão pelo cinema?
F.B.B.: Meu gosto pela Sétima Arte surgiu na infância, época em que descobri a magia da imagem em movimento. Minha mãe, minha madrinha e dois tios sempre apreciaram filmes de qualidade, me levavam ao cinema e indicavam títulos nos extintos VHS para que eu pudesse apreciar. Um dos meus tios, professor de História, falava no meu ouvido: “Pegue correndo O Poderoso Chefão. Não deixe de lado O Último Imperador. Você precisa assistir a Serpico. O quê? Não viu Ladrões de Bicicleta?”.
Dos meus 6 aos 9 anos, me marcaram filmes como Uma Cilada para Roger Rabbit, O Silêncio dos Inocentes, Mad Jake – No Caminho da Morte, que acabei ganhando de presente em VHS. Todos legendados, e eu, ainda bem pequeno, assistia pausando para conseguir acompanhar as legendas na tela. Foi uma época de descobertas e grande apreciação, que contribuiu significativamente para minha formação em cinema, muitos anos depois.
2) Tyler Durden disse em Clube da Luta: "As coisas que você possui acabam possuindo você". Ser colecionador é algo que se encaixa neste conceito, já que você se torna escravo do colecionismo. Coleciona filmes, CDs ou algo relacionado à 7ª arte?
F.B.B.: Sempre fui colecionador. Dos meus 8 aos 16 anos, comprava fitas VHS e cheguei a ter, em casa, cerca de mil títulos. Em 2001, adquiri meu primeiro DVD player e, a partir daí, passei a colecionar filmes em disco, uma grande novidade e revolução para o mercado na época. Quinze anos depois, sigo firme na minha coleção de DVDs (e, de uns tempos para cá, também de Blu-rays). Montei um escritório no meu apartamento dedicado a essa coleção. Tenho por volta de 3.500 títulos em DVD (originais, logicamente) e cerca de 100 em Blu-ray.
Nas minhas andanças, a trabalho ou a passeio, procuro locadoras que estão fechando para adquirir filmes em bom estado. Tenho títulos raros comprados fora do país, durante viagens, que nunca foram lançados no Brasil, por exemplo: O Mundo de Henry Orient (1964), com Peter Sellers; Cinderelo sem Sapato (1960), comédia com Jerry Lewis; Caminhando com o Amor e a Morte (1969), fita dirigida por John Huston que marcou a estreia de sua filha, Anjelica Huston; e o clássico de horror Creepshow (1982). Guardo com carinho alguns VHS também.
Ah, fui ainda colecionador de fitas cassete (música), tampinhas de garrafa, caixas de cigarro, bolinhas de gude, caixas de remédio, tazzos, selos, álbuns de figurinha etc.
3) "Nossas vidas são definidas por oportunidades, mesmo as que perdemos.", diria Benjamin Button em seu filme. O caminho até o eventual sucesso não é fácil, principalmente na concorrida Indústria Cinematográfica. Conte quando e como começou a escrever sobre cinema?
F.B.B.: Aos 13 anos, em 1998, dei os primeiros passos na crítica cinematográfica. Criei um site com meu primo, Tomás Vinhal (ele manjava muito de HTML e eu, de textos), intitulado Go!Cinema, e fizemos uma parceria que rendeu bons frutos. Ele cuidava do layout do site e eu escrevia as resenhas. Por três anos, desenvolvemos esse trabalho juntos.
Lembro-me dos meus primeiros textos: Scarface (1983), Fantasmas (1998), Central do Brasil (1998), O Poderoso Chefão (1972) e O Poderoso Chefão II (1974). Desde pequeno, gostava de redação, escrevia consideravelmente bem e coloquei isso em prática nesse hobby, que depois se transformou em profissão.
Aos 18 anos, ingressei no curso de Comunicação Social na UNIRP (São José do Rio Preto), onde me formei em Jornalismo. Anos depois, concluí minha especialização em Artes Visuais na Unicamp (Campinas) e, em seguida, entrei no mestrado em Cinema na mesma instituição.
Tenho mais de três mil resenhas e críticas publicadas, algumas delas reunidas no meu livro Cinema em Foco – Críticas Selecionadas (2013). E, como todo crítico que se preza, mantenho uma meta diária de ver filmes. Hoje, mesmo com o corre-corre da vida acadêmica, assisto a dois por dia e, nos finais de semana, com mais tempo livre, chego a ver de oito a dez.
4) O seu livro "Cinema em foco" veio de uma necessidade pessoal de se comunicar sobre cinema? E em que momento essa ideia tomou forma?
F.B.B.: Muitos leitores do meu blog e amigos pessoais viviam me cobrando um livro. Um dia, deu um estalo: “Por que não reunir parte do material que já publiquei, numa espécie de guia?”. Passei então a reler os textos antigos, tinha tudo salvo no meu notebook. Separei críticas escritas entre 2004 e 2012, de filmes que eu gostava bastante e que considerava indispensáveis para quem aprecia o bom cinema. Assim, consegui materializar tudo isso em um livro de críticas selecionadas, reunindo apenas filmes que eu considerava bons ou ótimos.
Foi um processo que levou quase quatro meses. Releitura de cerca de dois mil textos para pinçar cerca de 15% do total. Excluí os filmes ruins, afinal, o objetivo era criar um guia com indicações de títulos realmente legais para os leitores. E então nasceu um dos meus filhotes, parte da trajetória de quase 15 anos dedicados à Sétima Arte.
5) Com relação às suas preferências cinematográficas, há uma lista dos filmes de sua vida? Um Top 10 ou mesmo o filme mais importante?
F.B.B.: São muitos. Separei alguns em ordem alfabética:
A Fúria (1978); A Malvada (1950); A Morte do Demônio (1982); A Partida (2008); A Primeira Página (1974); A Fonte das Donzelas (1959); Amadeus (1984); As Bruxas de Eastwick (1987); As Horas (2002); Cabo do Medo (1991); Central do Brasil (1998); Cinema Paradiso (1988); Como Era Verde o Meu Vale (1941); Corpos Ardentes (1981); Crepúsculo dos Deuses (1950); Cria Cuervos (1975); Doze Homens e Uma Sentença (1957); Entre Deus e o Pecado (1960); Era Uma Vez na América (1984); Era Uma Vez no Oeste (1968); Estômago (2007); Furyo – Em Nome da Honra (1983); Golpe Sujo (1978); Gritos e Sussurros (1972); Hair (1979); História Real (1999); Interiores (1978); Kill Bill: Vol. 1 (2003); Kill Bill: Vol. 2 (2004); Louca Obsessão (1990); Mar Adentro (2004);
Meu Ódio Será Tua Herança (1969); Meu Pé Esquerdo (1989); Nosso Querido Bob (1991); O Baile (1983); O Bebê de Rosemary (1968); O Enigma de Andrômeda (1971); O Fabuloso Destino de Amélie Poulain (2001); O Falcão Maltês (1941); O Iluminado (1980); O Quarto do Filho (2001); Os Bons Companheiros (1990); Os Fuzis (1964); Os Gritos do Silêncio (1984); Os Sete Gatinhos (1980); Papillon (1973); Rede de Intrigas (1976); Síndrome da China (1979); Taxi Driver (1976); Tempo de Despertar (1990); Todos os Homens do Presidente (1976); Tragam-me a Cabeça de Alfredo García (1974); Um Dia, Um Gato (1963); Um Estranho no Ninho (1975); Um Lobisomem Americano em Londres (1981); Um Violinista no Telhado (1971); Uma Pulga na Balança (1953); Zelig (1983); Zorba, o Grego (1964).
6) Fale um pouco sobre os seus próximos projetos.
F.B.B.: Continuar na prazerosa toada de assistir a filmes, escrever para o público indicando boas obras disponíveis no mercado, organizar meu segundo livro de críticas e ensinar, cada vez mais, meus alunos a descobrirem o prazer do cinema, da fotografia e das artes em geral.
7) Ao olhar para sua trajetória, qual aprendizado considera mais valioso e gostaria de compartilhar?
F.B.B.: Cinema, fotografia, artes plásticas, teatro, ou seja, a arte em geral, nos transforma como cidadãos. Ela pode tocar nosso sentimento mais íntimo, nos fazer questionar a realidade, provocar reflexão sobre nós mesmos. Como pensou Oscar Wilde, “A finalidade da arte é, simplesmente, criar um estudo da alma”. Vivamos, então, a arte em todo lugar!
M.V.: Obrigado amigo.