Entrevista com Saulo Adami
Saulo Adami é escritor e editor, nascido em Brusque, Santa Catarina, em 21 de fevereiro de 1965, filho de Teresa Conte e Luís Avaní Adami. Por indicação do poeta Edson Luiz Maurici (Luigi Maurizi), foi o primeiro ocupante da Cadeira nº 30 da Academia de Letras de Balneário Camboriú (2008-2011), até transferir residência para Curitiba (PR) e pedir desligamento. Recebeu medalha de honra ao mérito como o acadêmico com o maior número de livros publicados (2010): 40 obras.
De 1982 a 2019, publicou 116 livros nas mais diversas áreas: “Cicatrizes” (1982), de poesia, conto e crônica, foi o primeiro; o ensaio “Estrada de Papel” (2017) foi o centésimo, coautoria com a psicóloga Jeanine Wandratsch Adami, com quem se casou em 2011. É autor de peças de teatro e roteiros de filmes documentários. Membro do Instituto Histórico e Geográfico do Paraná, dirige com sua mulher a editora Estrada de Papel, criada em 2019.
Vamos às 7 perguntas capitais:
1) É comum lembrarmos com carinho do início da nossa relação com o cinema. Os filmes ruins que nos marcaram, os cinemas frequentados (que hoje, provavelmente, estão fechados), as extintas locadoras de VHS e DVD que faziam parte do nosso cotidiano. Conte-nos um pouco de como é sua relação com a 7ª arte. Quando nasceu sua paixão pelo cinema?
S.A.: Desde criança, quando nossa TV Colorado RQ, mais mobília do que um aparelho de televisão, era em preto e branco, comprada por meus pais em 1970. Nossa casa era no Arraial dos Cunhas, uma comunidade rural do interior de Itajaí, em Santa Catarina, a 20 quilômetros de Brusque, minha cidade natal. Na época da compra da TV, eu tinha cinco anos de idade.
Aos 10 anos, assisti naquela TV “O Planeta dos Macacos” (1968), de Franklin J. Schaffner, e comecei a tomar as primeiras notas sobre a sua produção. Em 1978, comecei a escrever os primeiros textos que resultariam em quatro livros sobre os bastidores e segredos destas séries de cinema, TV e quadrinhos. O primeiro livro foi “O único humano bom é aquele que está morto!” (Editora Aleph/S&T Produções, 1996) e o mais recente é “Homem não entende nada! Arquivos secretos do Planeta dos Macacos” (Editora Estronho, 2015), resultado de 40 anos de pesquisas.
2) Tyler Durden disse em Clube da Luta: "As coisas que você possui acabam possuindo você". Ser colecionador é algo que se encaixa neste conceito, já que você se torna escravo do colecionismo. Coleciona filmes, CDs ou algo relacionado à 7ª arte?
S.A.: Coleção, coleção para valer, apenas relacionada a “O Planeta dos Macacos” em todas as suas formas e formatos, principalmente filmes. Comecei a colecionar em 1975. Tenho outros filmes dos quais gosto e algumas séries de TV que também faço questão de rever em DVD de vez em quando. Sobre algumas delas, estou escrevendo livros para a Editora Estronho, que serão publicados a partir de 2016.
3) "Nossas vidas são definidas por oportunidades, mesmo as que perdemos.", diria Benjamin Button em seu filme. Quais caminhos te levaram a se tornar crítico de cinema? Conte um pouco da sua trajetória na revista “Cinemin”, que marcou a vida de tantos cinéfilos no Brasil.
S.A.: Atuei como jornalista nas décadas de 1980 e 1990, em Santa Catarina. Nunca gostei do rótulo de crítico de cinema. Na verdade, sempre fui um jornalista/escritor interessado em cinema, o que me levou a escrever para jornais e revistas e ter inclusive uma sessão de rádio sobre cinema (“Bastidores da Sétima Arte”, 1984). Escrevi artigos também para fanzines do Brasil, Estados Unidos, Espanha, Canadá, Inglaterra...
Minha trajetória na revista “Cinemin” começou em 1989 com um telefonema para o editor Fernando Albagli cobrando uma matéria sobre “O Planeta dos Macacos”. Ao saber que eu pesquisava o tema, convidou-me para que escrevesse um artigo para a revista. O artigo saiu publicado em duas edições em 1990, e colaborei com a revista até o encerramento de suas atividades na década de 1990. Foi um tempo muito bom! Algumas das amizades daquela época eu cultivo até hoje.
4) "A vida é uma peça de teatro que não permite ensaios. Por isso, cante, chore, dance, ria e viva intensamente, antes que a cortina se feche e a peça termine sem aplausos". Considerando a reflexão, há alguma experiência vivida no meio artístico que foi especialmente marcante?
S.A.: A maior e melhor de todas foi a oportunidade de passar pela sessão de maquiagem em Los Angeles, Califórnia, em 1999, a convite de Bill Blake. Ele foi aluno de John Chambers, criador do desenho e responsável pela aplicação da maquiagem dos chimpanzés, gorilas, orangotangos e mutantes dos cinco filmes-sequência da saga “O Planeta dos Macacos” (1968-1973), produzida por Arthur P. Jacobs.
Chambers recebeu um Oscar honorário por sua criação, em 1969. Conheci e entrevistei pessoalmente os atores Booth Colman (Conselheiro Zaius), Buck Kartalian (o gorila Julius), Don Pedro Colley (o mutante Negro), Natalie Trundy (viúva de Jacobs) e Ron Harper (o astronauta Alan Virdon), além dos maquiadores John Chambers e Bill Blake. Devo estas oportunidades ao meu amigo Jeff Krueger, de Anaheim, Califórnia, com quem me correspondo desde a década de 1990.
5) Com relação às suas preferências cinematográficas, há uma lista dos filmes de sua vida? Um Top 10 ou mesmo o filme mais importante?
S.A.: Sem listas! Há apenas um filme que marcou a minha vida: “O Planeta dos Macacos” (1968). Ele reuniu meus favoritos: os atores Charlton Heston e Roddy McDowall; a atriz Kim Hunter; o diretor Schaffner; e o músico Jerry Goldsmith. Marcou minha vida por ter inspirado quatro dos 80 livros que escrevi e publiquei até agora, peça de teatro, documentários em vídeo e cinema, fanzines, fã-clube, exposições...
Por causa deste filme, viajei, conheci centenas de pessoas de outros estados e países que também são fãs colecionadores. Nenhum outro filme mexeu tanto comigo e me inspirou a percorrer tantos caminhos! Sou muito grato ao escritor francês Pierre Boulle, autor da história original, e ao produtor Arthur P. Jacobs, por sua persistência em transformar seu livro em filmes.
6) Fale um pouco sobre os seus próximos projetos.
S.A.: Este é o ano dos projetos de livros sobre filmes e séries de TV. Entre os livros já iniciados, estão: “Kung Fu”, “Perdidos no Espaço” (em parceria com Carlos Roberto Gomes), “O Elo Perdido”, “Os Imperdoáveis”, “Homem Invisível”, “Paladino do Oeste” (em parceria com Paulo Telles) e “No Mundo de 2020”. Projetos! Não significa que serão publicados hoje! Fora esta área, continuo escrevendo livros sob encomenda: biografias, histórias de cidade e entidades...
Também tenho produção de roteiros para documentários e filmes de ficção, projetos que demandam tempo e paciência. Publiquei meu primeiro livro de poesia, conto e crônica em 1982: “Cicatrizes”. De lá para cá, já escrevi e publiquei outros 80 livros nas áreas de literatura (poesia, conto, crônica, novela, romance), história, biografia e cinema.
7) Ao olhar para sua trajetória, qual aprendizado considera mais valioso e gostaria de compartilhar?
S.A.: O livro “Homem não entende nada!” esperou 40 anos para ser publicado. É a obra mais completa sobre “O Planeta dos Macacos” de que se tem notícia no mundo. Produzir esta obra exigiu paciência, dedicação e perseverança. Aprendi que a vida é vivida um dia depois do outro com uma noite de sono – e sonhos! – no meio. Jamais devemos desistir de nós mesmos.
M.V.: Vou devorar seu livro agora, cedido gentilmente pela Editora Estronho. Obrigado pela entrevista.