Entrevista com Paulo Biscaia Filho

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Paulo Biscaia Filho, nascido em 29 de agosto de 1969, Ă© um diretor paranaense, formado em artes cĂȘnicas pela PUC-PR, com mestrado em artes pela Royal Holloway University de Londres. EstĂĄ por trĂĄs da produtora de teatro e cinema Vigor Mortis, que se propĂ”e a ser uma versĂŁo brasileira do teatro francĂȘs Grand Guignol, com temas ligados ao horror e violĂȘncia grĂĄfica. 

Estreou no cinema dirigindo a versĂŁo de uma de suas peças mais conhecidas, Morgue Story – Sangue, baiacu e quadrinhos (2009). Seu filme seguinte foi Nevermore, uma coletĂąnea de curtas dedicados Ă  obra de Edgar Allan Poe.

Vamos Ă s 7 perguntas capitais:



1) É comum lembrarmos com carinho do inĂ­cio da nossa relação com o cinema: os filmes ruins que nos marcaram, os cinemas frequentados (que hoje, provavelmente, estĂŁo fechados), e as extintas locadoras de VHS e DVD que faziam parte do nosso cotidiano. Conte-nos um pouco sobre como Ă© sua relação com a 7ÂȘ arte. Quando nasceu sua paixĂŁo pelo cinema?

P.B.F.: Mudou minha vida e construiu minha profissĂŁo. Como toda criança das dĂ©cadas de 70 e 80, eu tive um envolvimento muito grande indo ao cinema com minha famĂ­lia, mas foi com “Caçadores da Arca Perdida”, que vi no Cine Bristol, cinema que, obviamente, jĂĄ estĂĄ fechado aqui em Curitiba, que tive minha primeira obsessĂŁo por um filme. Essa obsessĂŁo me levou ao making of, despertando meu fascĂ­nio pela produção cinematogrĂĄfica, pela direção e o desejo de fazer isso. Foi aĂ­ que deu o "clique" inicial.


2) Com relação Ă s suas preferĂȘncias cinematogrĂĄficas, vocĂȘ tem uma lista dos filmes da sua vida? Um Top 10 ou mesmo o filme mais importante?

P.B.F.: É muito difĂ­cil dizer qual Ă© o filme mais importante da minha vida, mas Ă© Ăłbvio que eu poderia falar de diversos como O Exorcista, Uma Noite Alucinante, Poderoso ChefĂŁo, Apocalypse Now, Fitzcarraldo e uma sĂ©rie de outros filmes que me influenciaram muito. Mas, como mencionei na resposta anterior, o destaque vai para Caçadores da Arca Perdida por ter sido o filme que me fez ver o cinema como uma possibilidade de comunicação com o mundo e entender a gramĂĄtica disso. Juntando um segundo filme, foi Janela Indiscreta do Hitchcock. "Caçadores" me ensinou que havia uma linguagem, e "Janela Indiscreta" me ensinou a linguagem.


3) Qual conselho vocĂȘ deixaria para a geração que estĂĄ começando na ĂĄrea? Quais sĂŁo os erros mais comuns que um diretor iniciante deveria evitar?

P.B.F.: Falando especificamente para quem quer iniciar no terror, isso deve ser algo apaixonante. PorĂ©m, tende a ser passageiro na vida de uma pessoa. Isso deve ser avaliado porque, quando vocĂȘ se engana e mente para si mesmo, obviamente nĂŁo conseguirĂĄ produzir grandes obras. VocĂȘ tem que ser sincero. O horror e o cinema de horror sĂŁo uma linguagem em si: fabulesca e indireta. Portanto, deve ser algo ao mesmo tempo lĂșdico e chocante.


4) "A vida Ă© uma peça de teatro que nĂŁo permite ensaios." Por isso, cante, chore, dance, ria e viva intensamente antes que a cortina se feche e a peça termine sem aplausos." Considerando essa reflexĂŁo, hĂĄ alguma experiĂȘncia vivida no meio artĂ­stico que foi especialmente marcante?

P.B.F.: Seria muito difĂ­cil escolher uma histĂłria ou dizer qual Ă© mais interessante. Acredito que todas as histĂłrias feitas com paixĂŁo sĂŁo interessantes. Acho muito mais legal quem estiver lendo esta entrevista ir lĂĄ e fazer o que ama para ter sua prĂłpria histĂłria interessante para contar. Essa Ă© a parte mais legal de tudo isso.


5) Imagine o cenĂĄrio: vocĂȘ Ă© um diretor (de qualquer paĂ­s) no set de filmagem de um filme memorĂĄvel. Quem seria esse diretor, em qual filme e por que essa experiĂȘncia seria tĂŁo marcante para vocĂȘ?

P.B.F.: É difĂ­cil mencionar apenas um. Tenho admiração por Hitchcock e pelos filmes do Steven Spielberg das dĂ©cadas de 70 e 80 em especial; alĂ©m de obras recentes como Roma, do Alfonso CuarĂłn, um brilhantismo enorme; aqueles planos sequĂȘncias dele sĂŁo geniais! Ou outras construçÔes fĂ­lmicas como as de Orson Welles, por mais Ăłbvio que seja. Estamos sempre querendo fazer o melhor. Todo cineasta personifica um pouco os cineastas que o influenciaram; entĂŁo todo dia eu faço isso: me transformo um pouco em outro cineasta.


6) Fazer cinema envolve muitas variĂĄveis: esforço, investimento, paixĂŁo e talento... E a sinergia desses elementos resulta no produto final. Qual trabalho em sua carreira vocĂȘ considera o melhor?

P.B.F.: Escolher um filme do qual eu fiquei profundamente orgulhoso Ă© como escolher um filho: nĂŁo sei! É absolutamente impossĂ­vel. Gosto muito dos filmes que fiz; tenho orgulho de Morgue Story, Nervo Craniano Zero, Virgens Acorrentadas e dos prĂłximos projetos que estĂŁo por vir. Sinto orgulho das peças que fiz.

M.V.: E quanto a arrependimentos? Ou, caso nĂŁo tenha nenhum, faria algo diferente?

P.B.F.: Eu nĂŁo tenho arrependimento nenhum. Aqueles projetos que podem nĂŁo ter tido tanto ĂȘxito me ensinaram muito; portanto, nĂŁo me arrependo absolutamente de nenhuma obra. Podem doer Ă s vezes, mas jamais geraram arrependimento, apenas ensinamento.


7) Para finalizar, deixe uma frase ou pensamento envolvendo o cinema que representa vocĂȘ.

P.B.F.: Bom, estou aqui na sala de casa em frente a um cartaz de um dos meus filmes favoritos "Asas do Desejo", do Wim Wenders. Este filme tem algumas passagens em que o anjo interpretado por Bruno Ganz, falecido em 2019, escreve num papel um poema escrito pelo dramaturgo Peter Handke; ele sempre começa com o mesmo verso: "Als das Kind Kind war, war es die Zeit der folgenden Fragen", traduzindo: "Quando criança era a época das perguntas". Moral: sempre mantenha essa curiosidade infantil! Eu mantenho sempre essa vontade de explorar novos mundos e contar novas histórias.

M.V.: Muito obrigado! Foi um prazer.

P.B.F.: Muito obrigado pela oportunidade e espero ver todos vocĂȘs numa sala de cinema, vendo nĂŁo sĂł os meus filmes, mas os filmes muito legais que tem por ai. Abração

M.V.: Sucesso para vocĂȘ.


 

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