Rossana Ghessa, nascida em Carbonia, no dia 24 de janeiro de 1943, é uma atriz e produtora ítalo-brasileira. Chegou ao Brasil na infância e sua carreira começou como modelo, garota-propaganda e atriz de novelas, antes de estrear nas telonas.
Atuou em mais de 40 filmes, sendo destaque no cinema nacional dos anos 1970, com trabalhos como Bebel, Garota Propaganda e Ana Terra. Desde os anos 1980, também atua como produtora na Verona Filmes.
E hoje, com vocês a atriz Rossana Ghessa.
Boa sessão:
1) É comum lembrarmos com carinho do início da nossa relação com o cinema. Os filmes ruins que nos marcaram, os cinemas frequentados (que hoje, provavelmente, estão fechados), as extintas locadoras de VHS e DVD que faziam parte do nosso cotidiano. Você é uma apaixonada por cinema? Conte um pouco de como é sua relação com a 7ª arte.
R.G.: A minha relação com a área em geral sempre foi de puro amor. Amo interpretar, cantar, dançar. Na minha adolescência, me arrisquei até nas artes plásticas, pintando algumas telas, mas a minha escolha acabou sendo o cinema. Os meus preferidos sempre foram as comédias musicais românticas e divertidas, gosto também de filmes épicos com uma pitada de ficção. Os cinemas que mais frequentei na minha adolescência foi um cine-teatro chamado Politeama, que ficava em Jundiaí, onde morei até os 14 anos.
Depois, quando nos mudamos para o Rio de Janeiro, fomos morar na Praça Seca em Jacarepaguá e tinha 2 cinemas que não lembro o nome, mas todo fim de semana passava filmes do Mazzaropi que eram muito divertidos. Já adulta e começando na carreira, fui morar na esquina da Avenida Atlântica com Barão de Ipanema e tinha do lado o Cine Riam. Andando uma quadra, o Cine Roxy, que felizmente ainda está lá, e bem perto, na Avenida Copacabana, tinha o cine Art-Copacabana. Hoje moro na Barra, onde tenho mais de 30 cinemas à minha volta, o que me deixa muito feliz.

2) Com relação às suas preferências cinematográficas, há uma lista dos filmes de sua vida? Um Top 10 ou mesmo, o filme mais importante
R.G.: O filme mais importante da minha vida e o que vivencio todos os dias é a minha própria vida, que é muito rica em detalhes e situações inusitadas, outras maravilhosas, algumas trágicas e tristes, e outras sofridas (quem ler a minha autobiografia poderá vivenciar um pouco). Digo um pouco porque ainda tenho muita história para viver e provavelmente escreverei o segundo capítulo.
M.V.: Bom, foi uma resposta poética, ainda que não tenha satisfeito minha curiosidade, e provavelmente do leitor ou leitora.
3) Quem trabalha com cinema no nosso país, certamente o faz por amor. Recentemente, lançou a autobiografia La Ghessa. Como foi a concepção deste trabalho? Imagino que tenha sido uma aventura, já que é uma nostálgica viagem no tempo...
R.G.: É verdade. Fazer cinema no Brasil não basta só amor, tem que ter coragem, abnegação, se preparar para altos e baixos porque é uma profissão que não te oferece segurança, se conseguir pagar as contas do mês pode se dar por feliz. Conheço pouquíssimas pessoas que enriqueceram com o cinema, e a maioria são produtores.

Escrevi a minha autobiografia num momento de muita dor, pois eu havia perdido meu grande amor, meu companheiro de toda uma vida, e eu precisava de alguma coisa que ocupasse a minha cabeça e escrever foi a forma que encontrei para exorcizar a dor. O fato de reviver a história da minha vida trouxe ele de volta, os nossos momentos de felicidade e muitas vezes tive que escrever entre lágrimas de saudade e isso foi muito sofrido.
M.V.: Ou seja, ainda que seja aos olhos do público uma autobiografia, foi para você um livro de autoajuda.
R.G.: Exatamente.
4) Algumas profissões rendem histórias interessantes, curiosas e às vezes engraçadas. E certamente, quem trabalha com cinema, tem suas pérolas. Se lembra de alguma história legal que tenha acontecido durante a execução de algum trabalho seu e que possa compartilhar conosco? Alguma história de bastidores, por exemplo…
R.G.: Para alguém como eu, que tem no currículo 64 filmes, vários trabalhos no teatro, TV, shows etc., é difícil destacar um, porque todos foram importantes para o meu crescimento e amadurecimento como artista e principalmente como ser humano.

5) Fale um pouco sobre os filmes mais interessantes dos quais participou. Como foi trabalhar nas adaptações de José de Alencar (Lucíola, o Anjo Pecador) e Monah Delacy (Pureza Proibida)?
R.G.: Em “Lucíola, o Anjo Pecador”, fiz a personagem título. Foi incrível, um desafio e tanto. Com “Pureza proibida”, aconteceu um salto de atriz para ser também produtora. No filme, escolhi tudo: história, equipe, elenco e diretor. Foi difícil produzir e interpretar, mas consegui e isso me fez orgulhosa de mim e reforçou a minha coragem para as produções seguintes.
M.V.: Como aconteceu o encontro com Érico Veríssimo?
R.G.: Interpretei várias histórias clássicas, entre elas destaco Ana Terra, da trilogia O Tempo e o Vento, do Érico Veríssimo, a quem tive a honra de conhecer e ouvir um elogio. Quando fomos apresentados, eu ainda estava com o cabelo loiríssimo de Bebel, a garota propaganda (filme que havia terminado de rodar). Como ele ficou me olhando, achei que era por causa do cabelo louro e me apressei em dizer que pintaria os cabelos de preto para rodar Ana Terra, mas ele respondeu que tinha certeza de que loura ou morena faria um belíssimo trabalho.

6) Fazer cinema envolve muitas variáveis. Esforço, investimento, paixão, talento... E a sinergia destes elementos faz o resultado. Qual trabalho em sua carreira considera o melhor?
R.G.: As personagens que mais me empenhei foram exatamente dos filmes citados acima: Ana Terra e Pureza Proibida. O primeiro porque levamos um ano na preparação, diversas viagens Rio-Porto Alegre para escolha das locações, e finalmente nos fixamos na terra de Erico Veríssimo, Cruz Alta.
O segundo porque toda a responsabilidade estava em minhas mãos, eu estava no comando de tudo, não podia errar, mas felizmente, apesar de vários incidentes, entre os quais um desastre de automóvel e um suicídio. Por tudo que realizei até o presente momento, me sinto profundamente orgulhosa.
M.V.: Arrependimentos?
R.G.: Não me arrependo de nada do que fiz e faria tudo de novo igualzinho.
7) Para finalizar, deixe uma frase ou pensamento envolvendo o cinema que representa você.
R.G.: “Não se pode avaliar um artista por uma obra isolada, mas pelo conjunto de sua obra”.
M.V.: Obrigado pela entrevista. Sucesso para você.